terça-feira, 27 de março de 2012

6ª Característica do líder que Deus usa: Servilismo

Elisabeth Elliot, cujo marido foi assassinado por índios aucas no Equador em 1956, escreveu: "Creio que a Igreja será mais eficiente para levantar líderes, quando nós começarmos a exemplificar a serventia [...]

As pessoas, muitas vezes, estão fazendo coisas normais quando Deus as chama para fazer aquilo que se torna grandes coisas. Jesus disse, 'Se você está pronto para ser o último, então, você será o primeiro. Se você está disposto para fazer coisas pequenas, então, encarregarei você de muitas coisas'.

É um dos paradoxos bíblicos onde o princípio da Cruz entra em operação ¬você ganha, perdendo; e torna-se maior, tornando-se menor. Quando nós, como Igreja, evitamos a Cruz, estamos nos privando da possibilidade da verdadeira liderança espiritual. E, esse é o tipo de liderança que precisamos hoje, mais do que nunca".

Precisamos lembrar que a busca de homens para liberar os apóstolos da responsabilidade de administrar o fundo de distribuição de recursos às viúvas na igreja em Jerusalém direcionou homens para "servirem às me¬sas" (diakonein, At 6.2). Um termo que Paulo usa constantemente para descrever sua própria função é "diácono" (servo).

O professor E. E. Ellis do Seminário Sudoeste em Forth Worth, no Texas, depois de um estudo minucioso das funções dos obreiros no Novo Testamento, fez o seguinte comentário: "Quando as designações atribuídas aos companheiros de Paulo são verificadas, fica clara a ausência de certos termos, não somente daqueles que mais tarde se tornaram tradicionais para os líderes na Igreja, mas também, os termos que identificam os dons e carismas espirituais especificados por Paulo.


Em suas cartas, nenhum de seus companheiros é chamado de profeta, professor ou pastor, muito menos, ancião ou bispo. As designações mais usadas são, em ordem de freqüência decrescente, sunergos ("cooperador"), adelphos ("irmão"), diakonos ("servo") e apostolos ("apóstolo").

Paulo usa diakonos em próxima relação à "obreiro" (ergates) e "ministros" (cf. 1Co 3.5, 9; 2Co 6.1, 4; 1Co 16.15-16). Os obreiros e os ministros são aqueles que têm se dedicado ao serviço dos santos. Os dons de apostolado, profecia, evangelista e pastor-mestre em Efésios 4.11 são distribuídos para a promoção e o treinamento de cristãos para o trabalho do ministério (ergon diakonias, v.12).

Isso significa que nenhuma função na Igreja, sendo ela exaltada, deve ser exerci da sem um "espírito de serventia". Paulo usa o termo hupereta ("servo", etimologicamente, "remador de baixo", em um navio a remo, 1Co 4.1), para enfatizar essa atitude humilde.

Jesus reagiu à ambição da autopromoção dos discípulos com um ensino específico sobre servilismo. Um pouco antes de celebrar a última ceia, Jesus notou que estavam contendendo entre si sobre qual deles parecia ser o maior (Lc 22.24). Jesus contrastou seu conceito de liderança com o quadro político da sua época: "reis" locais exerciam sua autoridade tirânica sobre as pessoas e chamavam-se "benfeitores". Os líderes cristãos necessitam ser "servos"(diakonon, Lc 22.26; Mc 10.42-44).

Qual foi a intenção de Jesus ao rejeitar a mentalidade da liderança de sua época? Primeiro, ele não estava rejeitando o uso do poder. Gardner demonstra que o poder não é para ser confundido com o status e o prestígio. O poder é a capacidade de garantir o resultado que um líder deseja realizar, e prevenir aqueles resultados que ele deseja evitar. "O poder [...] é, simplesmente, a capacidade de trazer à superfície certas conseqüências almejadas no comportamento de outras pessoas".

O poder é um ingrediente necessário à liderança. Todo líder necessita um certo grau de poder. Enquanto uma pessoa está subindo as escadas da autoridade estruturada de uma organização, espera-se um aumento em seu direito de usar o poder. O que determina a grandeza de um líder não é quanto poder ele tem, mas o quão eficiente ele é em usufrui-lo.

Um líder, que é servo, não busca poder para auto-enriquecimento, mas para a glória do seu Mestre. Um servo que serve bem não se preocupa com sua fama ou bem-estar, conquanto, possa realizar os desejos do seu Senhor. John Gardner estava certo quando observou que "poder reside em algum lugar", a menos que a organização esteja afundando presa no oceano da inércia e da total incompetência, como o Titanic na noite fatal de abril de 1912.

Jesus falou de si mesmo: "Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir (diakonein), e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10.45). Servilismo para Jesus não significou renúncia de poder.

Seu ministério irradiou poder, curas, exorcismos, ensino e desafios à religiosidade hipócrita. Contudo, Jesus renunciou ao uso de poder para seu próprio conforto, fama ou satisfação. "Ele exercitou poder de forma apropriada e para fins apropriados. Sua vida proporciona o exemplo positivo sobre como o poder pode e deve ser usado".

A mãe de Tiago e João esperava por posições maiores de liderança para seus filhos no reino que Jesus planejava inaugurar. Não somente os filhos de Zebedeu creram que o poder e a felicidade fossem sinônimos, mas também, os outros dez discípulos tornaram-se ressentidos quando eles perceberam que as duas maiores posições na organização tinham sido solicitadas.

Eles também estavam tão animados quanto Tiago e João para alcançar a autoridade e o poder no Reino. Jesus, porém, comparou o conceito mundano de "grandeza" a sua própria definição. "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt 20.28).

Jesus, embora Senhor de todos, exemplificou o servilismo de várias formas. Ele colocou de lado sua própria vontade para fazer a vontade do Pai. No jardim do Getsêmani, ele colocou de lado a tentação de insistir na sua própria preferência para dar lugar a vontade do Pai (Mt 26.42).

Ele rejeitou o trono (Jo 6.14,15), mas permitiu que seus atormentadores coroassem-no com espinhos. Ele admitiu que, de fato, era o Messias (Mc 14.61,62), o Rei preanunciado de Deus, mas não reagiu com ira e condenação contra aqueles que escarneceram dele, cuspiram nele e bateram na sua cabeça com um caniço (Mc 15.19, 20).

Embora todas as coisas tinham sido dadas por Deus em suas mãos (Jo 13.3), ele resolutamente escolheu não usar aquele poder para seu próprio benefício. Embora ele tivesse pouco lazer e descanso, ele teve tempo para segurar bebês em seus braços e abençoar as criancinhas. Embora uma multidão enorme lhe tivesse empurrado e apertado, procurando ajuda de todo o tipo, ele teve tempo para um pequeno e desprezado coleto r de impostos pendurado em uma árvore (Lc 19.1-10).

Os pedidores de esmola, os leprosos e as mulheres receberam sua atenção e ajuda, mesmo quando os discípulos tentavam protegê-lo da exigência deles. Ele não se importou com a fama e o poder, que motivavam as pessoas comuns, mas estava totalmente preocupado com a glória do Pai.

A servilidade, para Jesus, demonstra-se na sua preocupação por outras pessoas e suas necessidades, especialmente, daqueles que eram desprezados e rejeitados pela própria sociedade. Ele não somente exigiu auto-negação dos seus discípulos, mas também, exemplificou-a em seu próprio viver.

Jesus tinha uma missão a cumprir, e não, deu importância alguma para os altos e poderosos líderes que procuraram o bem-estar de si mesmos. "O zelo da tua casa me consumirá" (Jo 2.17), direciona-nos para a base do desdém que Jesus sentiu pela ambição e pelo poder que busca o seu próprio interesse, em vez da glória de Deus.
A atitude servil é enraizada em motivos corretos.

Quando a glória de Deus é o supremo prazer do servo, ele não tem nenhuma necessidade de fingir que é santo, como os fariseus fizeram na época de Jesus (Mt 6.1-4). A hipocrisia é antitética a tudo que Jesus ensinava.

Essa é a razão que ele atacou contra a pretensão religiosa com denúncias tão contundentes (Mt 23). Jesus alertou os títulos importantes que os escribas e fariseus apreciavam tanto. Nem "mestre", nem "pai" e nem "líder" (kathegetes) são apropriados para a atitude servil que é essencial à liderança (Mt 23.8-10).

A atitude servil necessita crescer de uma avaliação correta das habilidades e da autoridade de uma pessoa. No mundo, autoridade é herdada através do nascimento nobre (como no caso de reis e todos aqueles que nascem em famílias com títulos e nobreza), da ambição e da realização. Porém, para Jesus, autoridade e poder são dons oferecidos por Deus para pessoas indignas. "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus [...]" (Jo 1.12), claramente afirma que o direito (exousian, "autoridade", veja Mt 28.18) dos príncipes da família de Deus, o Rei da glória, é distribuído liberalmente pelo Senhor Jesus. Quando Jesus contou a parábola dos talentos, que três servos (douloi, "escravos") deviam ter dado de um a cinco talentos cada (Mt 25.15), pode ter aparentado até irônico para a sua audiência.

O valor de um talento (c. 30 quilos de prata ou ouro) era muito mais do que um artesão poderia ganhar em sua vida inteira. Jesus procurava enfatizar que aqueles sem riquezas ou direitos estão sendo elevados (de alguma forma) ao status de reis. Todavia, eles permanecem servos, que precisam prestar contas ao seu Mestre (Mt 25.19-30). Embora cuidassem do dinheiro como se fosse deles mesmos, não podiam jamais esquecer que, na verdade, não o era.

A atitude servil pode ser melhor mantida em uma democracia do que numa autocracia ou ditadura. Em um governo democrático, o líder é uma pessoa que não herda autoridade, ou conquista-a pela força, mas ganha o privilégio de liderar. Os membros da organização estão convencidos de que o seu líder escolhido resolverá seus problemas mais eficazmente do que qualquer outro, senão, deixariam de apoiá-lo. Porém, se um líder tem uma ambição não bíblica por poder, e portanto, usa meios ilegítimos para consolidá-la em suas mãos, deverá ser lembrado do alerta do Senhor.

"Se aquele servo disser consigo mesmo: Meu senhor tarda em vir, e passar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, virá o senhor daquele servo, em dia em que não o espera e em hora que não sabe, e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os infiéis" (Lc 12.4-46). De certa forma, Cheryl Forbes está certa: "Os cristãos precisam dizer 'não' ao poder, individualmente e corporativamente", porquanto ela entenda esse poder como algo ilegítimo e contrário ao espírito servil.

Richard Foster observou: "Aqueles que não prestam contas a ninguém são especialmente suscetíveis à influência corruptora do poder [...] Hoje, a maioria dos pregadores de mídia e evangelistas itinerantes sofrem [...] da mesma falta de prestação de contas que os profetas viajantes do século sexto sofreram".

É verdade que líderes cristãos são, no final das contas, prestadores de contas a Deus (1Co 4.5), mas uma avaliação justa de um companheiro de viagem da estrada celestial pode ser um excelente lembrete de que a atitude de um servo necessita ser mantida por toda a vida.
Alguns líderes facilmente caem no erro que os convence de que servir seus seguidores será interpretado como fraqueza. Porém, os líderes que servem são mais eficientes do que os autocratas.

A Bíblia claramente demonstra as conseqüências de se fazer escolhas que transmitam poder desp6tico. Roboão perdeu a maior parte do seu reino por seguir conselhos de jovens que aconselharam-no dizendo que ele deveria reinar com um "dedo mínimo mais grosso do que os lombos de meu pai" e forçar-lhes a carregar um jugo mais pesado daquele que Saio mão impusera (1Rs 12.10,11). Os anciãos estavam certos: "Se, hoje, te tornares servo deste povo, e o servires, e, atendendo, falares boas palavras, eles se farão teus servos para sempre" (v.7).

Próxima postagem...
Deus lhe abençoe!!!

Conclusão.

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